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UFBA e Igreja Católica renovam convênio de gestão do Museu de Arte Sacra por mais 60 anos

Acordo valoriza patrimônio histórico e cultural

O antigo Convento de Santa Teresa D’Ávila, localizado na rua Sodré, próximo à Praça Castro Alves, foi fundado pelos Carmelitas Descalços em 1697. Com uma rica história, abrigou o Seminário Arquiepiscoal e serviu também de alojamento para as tropas portuguesas nas lutas pela Independência da Bahia. Desligado da ordem em 1840, o local ficou abandonado e em ruínas até 1959, quando o primeiro reitor da UFBA, Edgard Santos, instalou no local o Museu de Arte Sacra da Bahia (MAS) através de um convênio com a Igreja Católica, criando o primeiro museu universitário do Estado.

Essa parceria será renovada nesta quinta-feira, 23 de novembro, às 14h30, na Sala dos Conselhos da Reitoria da UFBA, com as assinaturas do reitor João Carlos Salles e do arcebispo da Arquidiocese de São Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger. O tempo de duração é semelhante ao primeiro acordo, 60 anos. O Museu de Arte Sacra armazena atualmente a maior coleção de arte sacra do país.

A valorização patrimonial é um dos pontos centrais da aliança. Com assessoria e supervisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), qualquer restauração do conjunto arquitetônico é feita pela UFBA. Em consequência, o local é também um importante instrumento de investigação científica e disseminação de conhecimento à comunidade acadêmica e à sociedade por meio de cursos, pesquisas e visitações, que chegam, em média, a cinco mil por ano.

“Esse gesto é muito importante pra a Universidade. Estamos satisfeitos, a causa é maior do que nós”, disse o reitor João Carlos Salles. O arcebispo Dom Murilo afirma que a manutenção do convênio é uma garantia da preservação do patrimônio, ação que, em sua opinião, já é feita com excelente qualidade pela Universidade, “que tem ali uma verdadeira escola de restauração, de arte, de beleza”. “Para nossa arquidiocese de São Salvador na Bahia, é um passo muito feliz pela tranquilidade de saber que um rico patrimônio herdado de nossos antepassados continua sendo cuidado com tanto carinho. Então, quem ganha de verdade é a arte, a cultura, é a cidade, o Estado da Bahia, o Brasil, porque tem poucos lugares com tanta riqueza artística, com tanta beleza histórica como nossa Salvador”, observou Dom Murilo.

O Museu se destaca pela bela vista para a Baía de Todos os Santos e pela sua arquitetura. Em linhas clássicas, a fachada foi inspirada no modelo romano de Vignola, sendo um caso único deste tipo de composição antes do final do século XVII, no Brasil. Um santuário de preservação da arte sacra luso-brasileira, a coleção do Museu é composta por pinturas, azulejarias, ourivesaria, mobiliários, imaginárias religiosas, entre outros. A obra de Nossa Senhora das Maravilhas é um dos destaques. Presente de Dom João III à recém-descoberta Terra de Santa Cruz, foi trazida pelo primeiro Bispo do Brasil, Dom Pero Fernandes Sardinha em 1552. Alguns milagres são associados à imagem, entre eles, o “estalo” do padre Antonio Vieira. Considerado o maior pensador da língua portuguesa nos séculos XVI e XVII, ele tinha fortes dificuldades de aprendizagem quando jovem. Após rezar aos pés da imagem, teria tido o “estalo” na cabeça e se tornado um homem sábio, com facilidade para questões intelectuais.

Outra obra que se destaca é a de Nossa Senhora de Mont Serrat, de autoria de Frei Agostinho da Piedade, de 1636. Reconhecido como maior ceramista do século XVII no Brasil, o monge do Mosteiro de São Bento foi o primeiro escultor brasileiro a assinar e datar suas peças. Na peça de barro cozido, há a seguinte inscrição: “Frei Agostinho da Piedade, religioso sacerdote de São Bento, fez essa imagem de Nossa Senhora a mando do mui devoto Diogo de Sandoval e fe-la pela sua de devoção. Agostinho da Piedade, 1636”. Também de Frei Agostinho, o busto relicário de Santa Luzia, 1630, tem a cabeça de barro e o corpo fundido em chumbo, revestido de prata com esmeraldas e arabescos esculpidos. Estima-se que foi a primeira fundição feita na Bahia e talvez no Brasil. Obras do acervo permanente abrangem os séculos XVI, XVII, XVIII e parte do século XIX. Exposições temporárias também são realizadas numa área específica do Museu, que recebe também apresentação dos trabalhos de conclusão de curso de alunos da graduação e pós-graduação em Artes Visuais, Museologia e áreas afins.

A igreja localizada dentro do Museu possui uma coroa de consolos em arenito e o altar-mor atual, de prata, é proveniente da antiga Sé, demolida em 1933. Há também sacristia, coro, capela interior, refeitório e biblioteca com cerca de cinco mil títulos, disponíveis para consulta. O conjunto dispõe de 16 salões, 12 salas, 10 celas, longos corredores e galerias e duas escadarias de pedra com painéis de azulejos do século XVII nas paredes. A área total é de 5.261 metros quadrados, com cem portas e 146 janelas.

Para o diretor do MAS, Francisco Portugal, o convênio é uma “feliz parceria”, importante tanto para a UFBA quanto para arquidiocese, e permite a manutenção e preservação de um rico patrimônio da sociedade. O MAS - e seu acervo- é tombado como patrimônio nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN) desde 1938. Em 1985, foi declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. “Resta a nós seguir e cumprir com o propósito de Edgar Santos, que não entendia a educação sem estar vinculada à cultura, essa perfeita harmonia que a universidade até hoje honra com total dignidade”, declarou Portugal.