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Almirante Othon Pinheiro defende a diversificação da matriz energética e o programa nuclear brasileiro

“Sem tecnologia não há esperança”, disse Othon Pinheiro

A política de energia nuclear brasileira e a importância do investimento em ciência e tecnologia para a soberania nacional foram temas da palestra do engenheiro naval e almirante reformado da Marinha Othon Luiz Pinheiro da Silva, na quarta-feira, 25 de julho, dentro da programação do Simpósio SOS Brasil Soberano, realizado no auditório Leopoldo Amaral da Escola Politécnica da UFBA.

“A tecnologia e a energia têm relação direta com a qualidade de vida das pessoas e contribuem para o desenvolvimento da sociedade”, disse ele, que completou: “Se falta eletricidade, até (fazer) o café da manhã fica difícil”.

Othon da Silva ressalta a necessidade de o país produzir tecnologia própria para assegurar a sua independência e impedir que interesses estrangeiros se sobreponham à soberania popular. Em sua exposição, conceituou soberania exatamente como a capacidade de uma nação decidir seus próprios destinos procurando atender os melhores interesses de sua população. Para ele, um país viver com base em tecnologia importada é o mesmo que uma pessoa achar que pode viver dependente de transfusão de sangue, sem produzir o seu próprio. “Sem tecnologia não há esperança para esse país”, alertou.

Cientista premiado e um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento do programa nuclear brasileiro, Othon Pinheiro comentou os primeiros passos para a descoberta da energia nuclear a partir do entendimento da fissão nuclear do urânio, em 1939, e a criação do primeiro reator, em 1947.

“A motivação inicial para o desenvolvimento da energia nuclear foi claramente bélica”, disse em referência ao uso geopolítico da tecnologia e à bomba atômica, que segundo as suas palavras, é tanto uma arma de destruição em massa como também uma força inibidora de concentração de forças para ataque a outro país, assumindo, sob essa ótica, um caráter pacifista.

De acordo com o engenheiro, o Brasil é atualmente o sexto país do mundo em reserva de urânio que, uma vez prospectada, tem potencial para ser a segunda maior de todas. Ele celebra o fato de que o país tem recursos naturais abundantes e o domínio completo do ciclo para produção dessa energia.  E também fez questão de garantir que a tecnologia é segura.

Em outro tempo, afirma ele, havia a utopia de produção de energia elétrica a baixo custo – inferiores a todas as demais fontes de energia – o que não se concretizou. O Brasil tem cinco cidades com mais de 2 milhões de habitantes e 15 cidades com mais de 1 milhão de habitantes, centros que demandam muita energia. Diante da constatação de que o sistema é muito grande, ele acredita que é preciso diversificar a matriz energética e recorrer a outras fontes como a solar, eólica, hidrelétrica e também a nuclear, “que entra como equilibrador do sistema”.

Segundo avalia, a energia hidrelétrica, que requer integração em dimensões continentais, teve crescimento da capacidade instalada no país, mas sem aumento proporcional da capacidade de armazenamento. Ele citou o exemplo da crise do setor elétrico que atingiu o país em 2001 e considera que a energia nuclear deve ser um complemento para os períodos de escassez dos recursos hídricos. Também apontou para a necessidade de uma regulação efetiva do sistema elétrico e da mudança na cultura hidro com investimento pequenos reservatórios para evitar alagamentos de grandes áreas.

“A energia nuclear não é a solução, ela faz parte da solução. Não resolve tudo, mas é muito importante”, destacou o engenheiro, para em seguida apresentar o mapa do potencial nuclear brasileiro, que apresenta capacidade para implementação de novas centrais. Fatores como a seleção do local e da tecnologia específica foram apontadas como decisivas para o sucesso dos empreendimentos.

Ele compartilhou a sua experiência no desenvolvimento da centrífuga para enriquecimento de urânio que foi construída pela Marinha do Brasil, a partir de peças de origem nacional, em parceria com a comunidade científica. “Enriquecemos urânio pela primeira vez com sucesso em 2 de setembro de 1982”. Dois anos depois foram produzidas mais de 600 ultracentrífugas e, em 1990, teve início o projeto de construção do submarino nacional com propulsão nuclear – SNAC. “Temos capacidade nesse país, precisamos acreditar”.

Contudo, em 1995, o projeto do submarino nuclear foi encerrado por um governo federal caracterizado pelo neoliberalismo. Apenas 12 anos depois, em 2007, o então presidente Luís Inácio Lula da Silva oficializou a retomada do projeto. O engenheiro afirma ter a esperança de que no próximo ano haja uma retomada dos investimentos no setor com a superação do processo de desmonte que atinge o país em diversas áreas, inclusive na ciência e tecnologia.

 

Durante a palestra, Othon Pinheiro falou sobre as suas três grandes paixões: a Engenharia, a Marinha e o Brasil. E, em defesa dos interesses nacionais, criticou as ações para privatizar o sistema elétrico brasileiro, ressaltando que nem os Estados Unidos – país mais privatista do mundo, decidiu privatizar esse setor que é estratégico para qualquer nação.

Othon revelou preocupação com o uso da mídia para indução de perda da soberania para outros países e setores da sociedade em detrimento da maioria da população, incentivando uma série de privatizações. “Aqui no Brasil temos a ação constante da mídia para o direcionar a opinião pública”, disse ele, que defendeu uma atuação dos meios de comunicação que respeite o direito do contraditório.

Com edições realizadas em diversas cidades brasileiras, o Simpósio SOS Brasil Soberano visa promover o debate e buscar soluções para a crise institucional que o país enfrenta, ameaçando trabalhadores e trabalhadoras e colocando em risco a soberania nacional. Assim, investe na construção de uma proposta aberta, ampla, rumo à retomada de um desenvolvimento justo, autônomo e democrático.

Participaram da mesa de abertura do evento o pró-reitor de Graduação da UFBA Penildon Silva Filho, a diretora da Escola Politécnica, Tatiana Dumet, o vice-presidente da Apub Sindicato, Ricardo Carvalho, o diretor licenciado do Sindipetro Bahia, Radiovaldo Costa, o geólogo e representante da Federação de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), Manoel Barreto, o presidente do Sindicato dos Engenheiros (Senge-BA), Ubiratan Félix, e a engenheira e deputada estadual, Maria Del Carmen.

A edição do evento em Salvador foi organizada pelo Sindicato dos Engenheiros da Bahia (Senge-BA) e pelo Sindicato dos professores da Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia (Apub). O Simpósio SOS Brasil Soberano é uma iniciativa do Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro (Senge-RJ) e da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge).

Saiba mais sobre o projeto SOS Brasil Soberano através do site http://sosbrasilsoberano.org.br/