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Entre celebração e disposição de luta, Congresso da UFBA é aberto em alta temperatura

Música, teatro, poesia e artes plásticas na abertura

As batidas do grupo de percussão Rum Alabê, regidas pelo professor Iuri Passos, foram os primeiros sons da abertura oficial do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão da UFBA, às 15 horas da quarta-feira, 16 de outubro, no hall de entrada da Reitoria. O grupo musical seguiu depois até o salão nobre, onde foi recepcionado por uma multidão. “A Universidade é lugar de poder, por isso deve ser ocupada pelo povo do candomblé, pelo negro, índio, homossexual, por todos”, disse Iuri, enfatizando a importância da valorização dos ritmos sagrados do candomblé pela sociedade

 “Com a arte se combate o obscurantismo”, disse o reitor João Carlos Salles em seguida, para anunciar o papel reservado às várias apresentações artísticas que marcaram a sessão de abertura do Congresso.  A polissemia cultural reuniu música, teatro, poesia e exposição de arte e as integrou num ato político em defesa da universidade pública, gratuita, inclusiva e de qualidade.

Ao mesmo tempo, na Biblioteca Universitária de Saúde Rubim de Pinho (BUS), a Orquestra de Frevos e Dobrados, regida pelo maestro Fred Dantas, saudava o evento e recepcionava a comunidade universitária  que ia até o local para fazer o credenciamento. Da biblioteca, a animada orquestra se deslocou até a frente da reitoria onde tocou clássicos carnavalescos, para depois passar ao salão nobre e executar o hino nacional.

“Eu toquei o hino nacional com tamanho ímpeto porque acho que o Brasil é muito maior que esse momento que estamos vivendo”, disse Fred Dantas. Criador da Orquestra de Frevos e Dobrados, o maestro falou do orgulho em participar do ato político de abertura do Congresso, “num momento chave para o país, quando a democracia, a liberdade e as artes estão sob ataque”.

O jingle em defesa da universidade pública no Brasil foi cantado pelo Canto-Coral da Escola de Música da UFBA, sob a regência do maestro José Maurício. Composta pelo premiado professor, compositor e assessor especial da reitoria Paulo Costa Lima, a música convoca todos à defesa da universidade: “vamos defender. vamos juntos te defender”.

O grupo de teatro “Comitê político contra o golpe” apresentou-se no salão nobre e continuou seu percurso em volta do palácio da Reitoria. O coletivo carregava um caixão simbolizando o velório da justiça no país, sem, contudo, enterrar a esperança. “Eu luto por justiça e igualdade social, contra o golpe e o sistema neoliberal”, cantava. 

Logo após o lançamento oficial do Fórum Social Mundial na cerimônia de abertura di Congresso (que será realizado na UFBA de 13 a 17 de março de 2018), fez-se um minuto de silêncio em homenagem ao reitor da Universidade Federal de Santa Cantarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier de Olivo, que se suicidou em 2 de outubro passado, depois de ser preso e sofrer pesadas pressões em investigação da polícia federal, depois de ser acusado  de obstruir a Justiça em um processo de desvio de recursos.  “Peço um minuto de silêncio em sinal de respeito e de nossa dor pela morte do reitor Cancellier”, disse o reitor João Carlos Salles. “Esse gesto foi repetido em vários Conselhos Universitários pelo país. Nesse momento, as universidades federais e outras universidades públicas se parecem muito. Estamos unidas na luta contra a arbitrariedade, contra manifestações policialescas e contra a censura”, afirmou.

O reitor também deu destaque à moção de solidariedade ao Instituto Goethe - que foi aprovada pelo Conselho Universitário - em relação às críticas pelo local ter sediado a performance do artista de dança Wagner Miranda Schwartz, intitulada La Bête. O artista emula um dos Bichos de Lygia Clark, as esculturas de alumínio com várias dobradiças que podem ser manipuladas pelo público, e esteve em Salvador neste ano, antes de seguir para o Museu de Arte Moderna (MAM) em São Paulo.

“Nossa manifestação contra o ataque de censura, conservador, reacionário, autoritário ao instituto que foi tão importante na Bahia na luta contra a ditadura militar”, declarou o reitor.

Contra  essa e outras perseguições às artes no Brasil, a professora Lenira Rengel leu o manifesto para um corpo em estado de nudez da Escola de Dança. “A arte não está desvinculada da sociedade da qual faz parte e tem o livre direito de expressão como toda e qualquer manifestação. Não podemos aceitar falsos moralismos. (...) Não deixemos que o corpo seja visto como uma arma de violação”. E defende: “Uma nudez que cabe. Uma nudez sem idade. Por isso, cabe criança, cabe adolescente, cabe jovem, cabe adulto, cabe idoso. Uma nudez de relação entre gerações. Uma nudez em estado de ludicidade! Nudez como potência”.

Falas de autoridades foram intercaladas por poemas declamados pela professora, atriz e diretora teatral Meran Vargens. Completando a programação artística, o violonista costa-riquenho e professor da Escola de Música da UFBA, Mário Ulloa, fez uma interpretação impactante da canção “el condor  pasa”.

A 3ª mostra gráfica, com parte dos acervos da Escola de Belas Artes e dos artistas plásticos Goya Lopes e Juarez Paraíso, e a maquete da UFBA também fizeram parte do ato de abertura e continuam em exposição durante os dias do Congresso, no foyer lateral da reitoria.

Confira a íntegra da abertura do Congresso da UFBA:

Vídeo 1;

Vídeo 2.

Mais informações: Congresso UFBA 2017.