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Reitoras defendem universidade pública com autonomia e fora da lógica de mercado

"A universidade precisa de um projeto de comunicação"
 
“É perceptível a expansão da lógica de mercado às Universidades. Infelizmente ela tem sido vista como uma fábrica de diplomas, de técnicos, e assim como no mercado, quanto maior os números, a quantidade, melhor. Com essa visão, acabam esquecendo da qualidade, da real função da universidade, de formar pessoas, cidadãos, de disseminar os saberes, a cultura”, disse a reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Lúcia Pellanda, em mesa de debates na manhã desta quarta-feira, no salão nobre da Reitoria da UFBA. E acrescentou que se faz urgente entender que o conhecimento foge da lógica do mercado, quanto mais se compartilha, mais se tem. ”
O tema em destaque era “Desafios e perspectivas para a universidade pública”, e sua discussão, a cabo de Lúcia Pellanda e da reitora Soraya Smaili, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mais Antônio Virgílio, superintendente de Avaliação e Desenvolvimento Institucional da Universidade Federal da Bahia, integrou a programação do último dia do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão da UFBA
“Dizem que a Universidade tem autonomia, de fato, ela tem, mas essa não tem sido respeitada. Hoje nossa autonomia está extremamente restrita. Leis são feita sem nos consultar, obrigações nos são impostas sem nos perguntar se podemos cumprir ou não. Isso acaba impactando no nosso desenvolvimento”, ressaltou Soraya Smaili. 
“Não é fácil falar sobre uma universidade que queremos construir num cenário de tamanhas incertezas e turbulências”, comentou Virgílio.
Ambas compartilharam suas experiências e falaram das dificuldades e obstáculos de se prever um futuro para a educação superior pública no Brasil. “Somos incapazes de afirmar o que vai acontecer, mas podemos pensar em meios de resistir e superar essa crise que estamos passando, sonhando assim, com a universidade que queremos”, disseram.
Um ponto  também abordado no debate foi a questão das responsabilidades da universidade, do tripé: ensino, pesquisa e extensão.  “Esse tripé está mais para centopeia”, disse a reitora Soraya ao refletir que a universidade tem sido cobrada a pensar em muitos outros aspectos como inovação tecnológica, internacionalização, cultura, artes, direitos humanos, e muitos outros temas.
“Será que está na hora de darmos um basta? Tem-se exigido muito das universidades. São muitas atividades, avaliações e formas de controle diferentes. A universidade precisa ter seu espaço. É preciso repensar nossos currículos, aquilo que a gente ainda pode mudar para que tenhamos espaço livre para pensar, interagir, conviver e dialogar”, questionou a reitora da UNIFESP.
Além disso, Soraya abordou o desafio da comunicação entre a sociedade e a universidade. “As universidades precisam de um projeto de comunicação, estamos falando em publicar os dados no portal, mas essa ferramenta não está funcionando mais”. A reitora Lúcia comentou também que “a universidade precisa estabelecer um relação mais dialógica e participativa com a sociedade”, de modo que dessa maneira, ela seja sensibilizada da importância da universidade pública no país.
 
Já chegando ao fim, os participantes da mesa ressaltaram a necessidade de se manter otimista frente aos obstáculos e dificuldades impostos à educação superior no Brasil. “É preciso transformar a educação numa forma de resistência. A universidade pública brasileira está viva, precisamos lembrar disso o tempo todo. Num momento como esse, de tantas incertezas, devemos  continuar lutando”, concluíram Soraya e Lúcia
“Temos que ter atenção à dimensão das transformações do nosso cenário, de crescentes restrições orçamentárias e de inversão de prioridades nas políticas públicas. Para onde é que nós vamos caminhar com o aprofundamento da política neoliberal, com a afirmação do estado ínimo? É preciso retomar o projeto desenvolvimentista em que a universidade tem o papel de agente transformadora da sociedade, de produtora de saber,  tecnologia, cultura e arte.” finalizou Antônio Virgílio.