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A UFBA se despede do reitor Roberto Santos

Foto: Aristides Alves / Arquivo UFBA

 

“Informo aos membros da comunidade UFBA que Dr. Roberto Santos, nosso ex-reitor e nosso grande amigo, acaba de falecer. A UFBA, mais uma vez, está de luto. Expresso aqui nossos sentimentos mais profundos.” Com essas palavras, o reitor João Carlos Salles comunicou o sentimento de grande perda que hoje atinge nossa Universidade. Os 94 anos de vida profícua do reitor Roberto Santos foram marcados por seu grande amor à ciência, à cultura e à Universidade Federal da Bahia. O sepultamento será amanhã, dia 10/02, no cemitério Jardim da Saudade. A Reitoria decreta luto oficial por três dias e se solidariza aos familiares, amigos e admiradores.

Roberto Figueira Santos, filho do fundador e primeiro reitor da UFBA, Edgard Rego Santos, e de Carmen Figueira Santos, nasceu em Salvador, no dia 15 de setembro de 1926. Em 1963, casou-se com Maria Amélia Menezes Santos, com quem teve seis filhos. Destacado pesquisador na área da saúde, ocupou os cargos de reitor da UFBA, entre 1967 e 1971, governador da Bahia (1975-79), ministro da Saúde (1986-87) e deputado federal (1995-99).

Roberto Santos teve “uma vida com atividades muito variadas, algumas delas até imprevistas”, como ele mesmo afirmava. Ainda muito jovem, em julho de 1950, poucos meses após diplomar-se pela Faculdade de Medicina da UFBA, obteve bolsa Fundação W. K. Kellogg, o que lhe permitiu estudar nos Estados Unidos durante quase três anos, período em que complementou sua formação em clínica médica frequentando Hospitais das Universidades de Cornell, Michigan e Harvard.

De volta a Salvador, passou a trabalhar em regime de dedicação exclusiva no Hospital das Clínicas da UFBA, hoje Hospital Universitário Professor Edgar Santos. Iniciou a carreira docente na Faculdade de Medicina da UFBA, como assistente da 1ª Clínica Médica, e obteve o título de doutor em ciências médico-cirúrgicas na mesma unidade. Em seguida, submeteu-se a concurso para a docência-livre e alcançou, mediante concurso de títulos e provas, a cátedra de clínica médica da Faculdade.

No exercício da cátedra, criou, em 1956, o primeiro programa de residência médica do norte-nordeste do país e liderou alteração no currículo do curso de medicina, com o intuito de evitar a especialização precoce, muito frequente até então, defendendo, em vez disso, a inclusão do ensino da sociologia médica ainda no início da formação profissional. Pelo interesse revelado pelos problemas da formação de médicos, foi eleito presidente da Associação Brasileira de Educação Médica. 

Em 1967, foi nomeado reitor da Universidade Federal da Bahia para um mandato de quatro anos, durante o qual dedicou especial atenção a uma profunda reforma da estrutura universitária, que reestruturou a carreira docente – extinguindo o sistema de cátedra e implantando a estrutura de departamentos –, criou os institutos das áreas básicas do conhecimento e intensificou a pesquisa, através da implementação de uma vigorosa rede de pós-graduação.

Em 1975, assumiu o Governo do Estado da Bahia, com mandato de quatro anos. Sua gestão foi marcada por grande ênfase na atenuação dos imensos problemas sociais da população do estado. A rede pública de atenção à saúde foi consideravelmente ampliada e foram muito aumentadas as oportunidades de matrículas no ensino médio profissionalizante. Seu governo implantou o primeiro Museu de Ciência e Tecnologia do País e deu grande impulso à construção de Pólo Petroquímico de Camaçari. Fomentou também o turismo, com a construção do Centro de Convenções da Bahia, contribuiu para a modernização da agricultura, construindo um belíssimo Parque de Exposições de Animais e intensificando a cultura no café no estado.

O vice-reitor da UFBA, Paulo Miguez destacou em entrevista que o governador Roberto Santos revogou uma lei “injusta e racista” que obrigava os terreiros de candomblé da Bahia a se registrar na Delegacia de Jogos e Costumes da Secretaria de Segurança Pública do Estado. “Hoje, certamente, em despedida ao doutor Roberto Santos, os tambores dos terreiros e casas de santo desta cidade tocarão mais alto”, concluiu Miguez.

Ao longo de toda a vida, Roberto Santos exerceu importantes cargos relacionados ao desenvolvimento da educação e da ciência no Brasil. Entre 1964 e 1974, foi membro do Conselho Federal da Educação, órgão que viria a presidir entre 1971 e 1974. No início do governo José Sarney, assumiu a Presidência do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

Na vida política, além de governador, organizou o Partido Popular na Bahia, no começo da década de 1980, em estreita colaboração com Tancredo Neves. Foi ministro da Saúde no governo José Sarney, entre os anos 1986 e 1987 e, em seguida, representou o Brasil na Organização Mundial da Saúde, em Genebra, durante três anos. Na década seguinte, foi eleito deputado federal pelo Partido Social da Democracia Brasileira (PSDB), exercendo mandato de 1995 a 1999 – findo o qual reuniu seus pronunciamentos em volume intitulado “Um mandato parlamentar a serviço das causas sociais”.

Em seguida, afastou-se da militância política para dedicar-se a iniciativas de natureza cultural. Em 2004 foi eleito Presidente da Academia de Educação da Bahia. Também participou ativamente da Academia de Letras da Bahia e da Academia de Medicina, e de Comissões ligadas à Reitoria da Universidade Federal da Bahia. Em 2010, foi fundador e presidente de honra da Academia de Ciências da Bahia.