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Uma universidade aberta para as crianças

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Ser uma universidade pública e gratuita numa cidade como Salvador – que, apesar de ser um caldeirão cultural, carece de espaços públicos para expressão das artes e lazer – , requer o desenvolvimento de projetos de extensão que atinjam aos vários públicos da sociedade ao seu entorno.  Seguindo nesta direção, a UFBA mantém atividades voltadas ao público infantil, com o objetivo de entreter de forma saudável e desenvolver habilidades artísticas nos pequenos, como o “Crianças na UFBA”, o “Ciranda das Artes” e os “Cursos de Musicalização Infantil”.

No sábado 05/05, as crianças preencheram vários espaços universitário para atividades pensadas especificamente para elas. Pela manhã, na Escola de Belas Artes, houve a aula inaugural do projeto de extensão “Ciranda das Artes”, voltado a crianças com idades entre 5 e 12 anos. À tarde, na Praça das Artes, em Ondina, aconteceu a 30° edição do projeto “Crianças na UFBA”, e mesmo a chuva não foi suficiente para espantar o público mirim, que se abrigou na entrada da Biblioteca Reitor Macedo Costa. Logo adiante, pais e cuidadores participavam da roda de conversa “Revendo a lógica punitiva. Por que educar não rima com castigar?”, com a psicóloga Tatiana Pedreira.

Ciranda das Artes

O projeto é organizado pela professora Ana Gabriela Rezende, e nele, a meninada tem a oportunidade de pintar, cantar, dançar e criar histórias. O encontro semanal é marcado por dinâmicas, contação de histórias com interação e aula de pintura com a temática da história que é contada.

“Esta será a tônica das aulas. Será uma aula de cada saber artístico por semana, com um tema em comum durante o mês. As crianças poderão explorar de forma lúdica o mesmo tema nas quatro artes apresentadas”, conta Gabriela coordenadora do projeto.

O professor de dança Léo Chagas ressalta a importância da transdisciplinaridade do projeto e a oportunidade de aproximar as crianças com as manifestações culturais brasileiras. E, ao contrário do que o senso comum possa crer, os professores entendem que a tecnologia não tem suplantado as brincadeiras de roda tradicionais. “Esta cultura ainda está presente muito forte nas comunidades, o que ocorre é uma invisibilidade destes sujeitos sociais. Esta é a força desse projeto quando se propõe a mediar essa interação, levando tais práticas para crianças que não tem este contato”, analisa Chagas.

“Quando a gente faz uma dinâmica com as crianças, percebemos que a tendência às brincadeiras está ali dentro delas. E é expressado intuitivamente, nos gestos, na voz, tão logo se proponha brincadeiras”, completa a professora de responsável pela contação de histórias, Solange Campos.

Silvanei Nascimento mora em Simões Filho e optou por matricular sua filha, Maísa Nascimento, de 6 anos, no curso da UFBA, por achar importante a interação da universidade com a sociedade. Além disso, ele confia que “trabalhando as quatro formas de artes, irá colaborar no desenvolvimento cognitivo” da pequena Maísa.

O projeto Ciranda das Artes acontece até dezembro, sempre aos sábados. As inscrições ainda estão abertas. Mais informações pelo telefone (71)3283-7926.

Crianças na UFBA

A cada primeiro sábado do mês, um ambiente que habitualmente é ocupado por estudantes concentrados em seus estudos, torna-se palco para correria de crianças de todas as idades com brincadeira e emissão de vozes infantis. No primeiro sábado de maio, no hall de entrada da Biblioteca Reitor Macedo Costa, enquanto meninos e meninas se divertiram com as brincadeiras e músicas apresentadas com os instrumentos das oficinas de musicalização infantil da Escola de Música da UFBA, os pais e cuidadores refletiam sobre “a lógica punitiva: por que educar não rima com castigar?”, com a facilitação da psicóloga Tatiana Pedreira.

A psicóloga lembrou que “crianças são indivíduos imaturos e com o cérebro em formação, portanto ainda não sabem lidar com sentimentos e administrar frustrações”. Ela ressaltou que “o papel dos pais é ajudar a compreender o que elas sentem, e não castigar. Quando ela diz que odeia a mãe ou o pai por não ganhar algo que pediu ou qualquer outra frustração, a melhor forma de lidar é através do acolhimento. Dizer que entende como ela se sente, que a situação é muito chata e que talvez em outro momento ela possa ganhar o que deseja. Isso ajuda a criança a organizar o que sente”, explicou Tatiana.

Outra temática foi a violência e o exemplo dos pais. Para a psicóloga, a melhor maneira de lidar com a situação é estabelecendo limites e que ninguém aja com violência dentro de casa. Outra preocupação externada entre os participantes da roda foi com programas de televisão que tentam ajudar os pais a lidar com os filhos. Para Pedreira, “o que se faz na TV é adestrar as crianças. E no caso de seres humanos, isso pode gerar graves consequências na fase adulta, podendo formar uma pessoa altamente insegura e antissocial, por não aprender a lidar com seus sentimentos”, alertou.

O projeto “Crianças na UFBA” é coordenado pelas professoras do Instituto de Psicologia Adriana Férriz e Juliana Prates e acontece no primeiro sábado de cada mês, das 14 às 18h, na Praça das Artes no Campus de Ondina, e acolhe crianças de todas as idades gratuitamente. O trabalho tem como base a partilha, de forma a incentivar os participantes à prática dos princípios de solidariedade e consumo consciente. “No projeto, não se vende ou compra nada, tudo é socializado. As famílias fazem piqueniques, e as crianças compartilham o brinquedo e a alimentação”, observa a coordenadora.

A ideia do Crianças na UFBA surgiu em 2015, quando as atuais coordenadoras do projeto levaram seus filhos para um sarau infantil, e pensaram “por que não usar aquele espaço sempre?” Desde o início, a atividade traz temáticas já desenvolvidas na formação dos estudantes dos cursos de psicologia e serviço social. Reduzir a institucionalização do tempo livre das crianças é outro importante pilar do projeto, por isso, a brincadeira é livre, com tendas abertas de artes, fantasia, jogos, entre outros. Cada espaço tem monitores, mas se a criança quiser ficar só correndo, ela é livre para isso. A equipe de monitores é multidisciplinar: além de dois bolsistas do programa Permanecer, conta com 20 voluntários de diversos cursos, como música, psicologia, enfermagem e serviço social.

*Josemara Veloso e Thiago Barboza, para o Edgardigital