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Universidade, a principal aliada na construção de um projeto para o Brasil

"Partidos estão focados em seus programas eleitorais".

 

“O Brasil nunca teve um projeto de nação amplo, de forma a beneficiar a maior parcela de sua população. O momento pelo qual o país passa atualmente é consequência disso”, afirmou João Pedro Stédile, economista e líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ao abrir a mesa de debates  “Universidade e Projeto para o Brasil”,  no auditório do Instituto de Biologia, campus de Ondina, na terça-feira, 17, segundo dia da programação do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão da UFBA.

Stédile procurou situar historicamente suas proposições e lembrou que, desde o Descobrimento, os modelos econômicos implementados pelas classes dominantes sempre foram voltados a suprir as demandas das maiores potências mundiais, beneficiando apenas essas classes. Apenas em três momentos de crise desse modelo, ele observou, os movimentos populares se organizaram e construíram um projeto de nação amplo, com reformas de bases estruturais, desenvolvimento das forças produtivas e distribuição de renda e riqueza: em 1935, 1960 e 1989. “Isso acabou com duas derrotas eleitorais e o golpe militar da década de 1960”. Em 2002, acrescentou, não foi um projeto de nação que venceu as eleições, e sim um projeto de conciliação de classes.

Adiante, a confluência das crises econômica, social e ambiental “acertou em cheio as estruturas do estado burguês, gerando a crise política, não apenas no Brasil, mas em outros países como a Grécia, na qual as massas, não se sentindo representadas, não crêem na mudança pelo voto, o que causou uma crise na forma de funcionamento da democracia real”. Com isso, segundo Stédile, a forma mais lucrativa para enfrentar a crise e manter o funcionamento do estado burguês é atacar os direitos dos trabalhadores e explorar, no Brasil, por exemplo, as riquezas naturais existentes em abundância. “Porém, a exploração dos recursos é feita por empresas estrangeiras que ficam com a maior parte do lucro, deixando quase nada no país”. Para ele “construir um projeto de nação não é algo que se discuta em meia hora, é algo que se trabalha com o tempo”.  Dessa forma, as universidades, em sua visão, tornam-se as principais aliadas nessa construção, já que mantém a principal reserva intelectual do país. Ele não acredita que em 2018 haverá qualquer projeto de país em discussão, “pois os partidos estão focados na construção de seus programas eleitorais que, na maioria das vezes, são feitos de medidas emergenciais”.

Na mesma linha, a professora Celi Taffarel fez uma reflexão sobre a importância social das universidades, com a indagação de a quem elas sempre serviram. Lembrou a importância de manter unida a classe trabalhadora dentro das instituições universitárias para seguir lutando por um projeto de universidade democrática, gratuita e de qualidade. E, ainda, que os estudantes formados na academia são o principal alicerce para construir um projeto plural para o Brasil.