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A violência humana expressa no cotidiano e nas artes foi tema de Jorge Coli no Ciclo Mutações

Professor analisou a violência em obras de arte

A violência que é inerente ao ser humano, expressa em diversas formas no cotidiano e nas artes, foi tema da conferência de Jorge Coli no Ciclo Mutações. O professor de História da Arte comentou exemplos de obras que têm a violência presente, como Guernica, de Pablo Picasso, e uma gravura de Goya que tem o título “O sono da razão produz monstros”. Ele fez observações ainda acerca do simbolismo de outras obras como "Caipira picando fumo", de Almeida Junior, e as telas do artista plástico baiano Fábio Magalhães. O evento foi realizado no último dia 21/10, no Salão Nobre da Reitoria da Universidade Federal da Bahia, no Canela. 

A dicotomia entre violência e a agregação foi comentada pelo professor, que acredita que ambas são forças que se equilibram. De um lado está Vênus, Eros, que agrega, harmoniza e fecunda, e do outo está Marte, Anteros, a força da violência e da destruição. Em seu entendimento, nem sempre a violência é negativa. Ele apontou a natureza como uma violência extraordinária, que desencadeia nos seres processos de destruição, a exemplo da cadeia alimentar em que um ser devora o outro e a vitória cabe ao mais apto. A mesma natureza que se apresenta bela e provoca o sentimento de harmonia.

Jorge Coli ressaltou que a violência também é brutal, desencadeia experiências do medo, terror, guerras e resulta em milhões de refugiados em todo o mundo. Ele deu exemplos de formas de violência menos perceptíveis, como aquela da jovem que passa o dia inteiro trabalhando em um caixa de supermercado, em uma atividade repetitiva e estéril. Ou o atleta olímpico, submetido desde a infância a um regime de treinamento violento, em busca de superar o cronômetro em alguns segundos para obter a vitória.

Ao abordar a violência com o enfoque a partir da dimensão artística, o conferencista disse que a arte funciona como um laboratório natural que permite que as pessoas experimentem sensações diversas. “A arte nos oferece formas tremendas de violência, mas também de alívio, prazer, ação e tudo isso em conjunto nos faz pensar o complexo mundo em que nós vivemos. O papel da arte é ao mesmo tempo o de denúncia”, disse.

Há também uma violência que se impõe no campo da ordem. Coli vê a ordem como uma imposição em contraponto ao caos. Ele considera que “há um princípio de fecundidade no caos” e chamou atenção para um movimento conservador na sociedade que entende a violência como uma maneira para assegurar a ordem. Ele criticou ainda a exploração da violência pelos meios de comunicação, atuando como um estímulo ao desejo de vingança. Em sua opinião, a justiça deve ser pensada não como uma forma de punição. Seria mais importante pensar a ideia de recuperação social do indivíduo e não a sua prisão, o seu isolamento como um caminho para a justiça.

Apesar dos graves conflitos que permanecem no mundo atual, Coli considera que houve avanços e isso lhe traz um certo otimismo. Ele confessou ter a esperança de que esses problemas sejam corrigidos em uma sociedade futura e de que a violência possa ser neutralizada, pressupondo não o seu desaparecimento, mas a sua canalização – inclusive através das artes –, o que poderá ocasionar um mundo menos brutal. No entanto, adverte que “continuamente teremos que lutar contra a violência”.