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Da abertura ao encerramento, o Congresso da UFBA foi de celebração e defesa corajosa da universidade pública

Congresso teve 13.500 participantes inscritos

 

Os números finais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão da UFBA, destacados pelo reitor João Carlos Salles, são dignos de um megaevento acadêmico: 13.500 participantes inscritos, 2.600 trabalhos de estudantes apresentados, 95 mesas de debates, 60 intervenções artísticas e 50 atividades do projeto “UFBA mostra tua cara”, tudo concentrado em apenas três dias, de 16 a 18 de outubro.

Conte-se ainda, debatendo, participando de reuniões, circulando entre espetáculos de dança, teatro, música, exposições de artes visuais e oficinas diversas, cerca de 260 convidados de outros estados e paises, para se acercar um pouco mais da dimensão do congresso. Entre esses convidados estavam 36 dirigentes de universidades federais que realizaram na UFBA uma reunião do pleno da Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e 200 pessoas ligadas aos movimentos sociais e organizações responsáveis pelo Fórum Social Mundial, incluindo 40 membros de seu Conselho Internacional.

Vale lembrar aqui que o Fórum Social Mundial 2018 acontecerá de 13 a 17 de março em Salvador, mais precisamente nos campi da UFBA, sua anfitriã, e foi justamente no Congresso da Universidade que se deu o lançamento oficial e uma série de atividades preparatórias do evento – em particular, debates sobre os grandes temas que mobilizam hoje as reflexões e ações mais consistentes de movimentos, organizações e instituições vinculados às lutas por democracia, construção de sociedades mais igualitárias e liberdade (ver, a propósito, reportagens desta e da próxima edição do Edgardigital).

Em relação à presença de quase quatro dezenas de reitores das federais no Congresso e às atividades da Andifes, fundamental é destacar as decisões a que chegou a Associação, anunciadas na sessão de encerramento no fim da tarde da quarta-feira, 18, no salão nobre da reitoria.- além, sem dúvida, da mesa que debateu “Estado policial ou estado democrático de direito: que Brasil estamos construindo?”, e daquela que discutiu “Desafios e perspectivas para a universidade pública” (ver reportagens a respeito neste boletim).

As decisões foram sintetizadas pelo presidente da Andifes, Emmanuel Zagury Tourinho, reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), que começou pelo propósito firmado pelas várias universidades federais de se integrarem ao Fórum Social Mundial na Bahia, em março do próximo ano. Tourinho  destacou também as discussões ocorridas sobre a conjuntura difícil por que passam as universidades, tanto em termos das restrições orçamentárias quanto das ameaças à sua autonomia, que exigem uma permanente afirmação política, e que conduziram à deliberação sobre novas ações de defesa a serem executadas em conjunto com outros entes sociais.

“A defesa da universidade pública precisa ser feita pelo conjunto da sociedade brasileira”, disse ele e, para tanto, é preciso informar muito mais essa sociedade sobre o que a universidade faz e o que representa em termos de conquistas para o povo brasileiro. Nesse sentido vai tanto a subscrição, pela Andifes, do manifesto da União Nacional dos Estudantes , a UNE, em defesa da universidade, quanto o convite dos reitores para uma ampla participação de todos os setores em sessão especial da Câmara Federal, organizada pela Frente Parlamentar pela Valorização da Universidade Pública, em Brasilia, em 21 de novembro.

Tourinho encerrou sua fala agradecendo à Universidade Federal da Bahia pela calorosa e cuidadosa acolhida e destacando a liderança do reitor João Carlos Salles a frente da comunidade da UFBA, segundo ele tão evidente na força de um evento como o Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensao.

O reconhecimento da necessidade e o ato de coragem que é defender a universidade pública no atual cenário político brasileiro estiveram presentes na abertura do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão da UFBA, realizada no final da tarde de 16 de outubro, no salão nobre da Reitoria da UFBA.  Palavras como luta, coragem, resistência, educação, união e direitos sociais ecoavam no auditório lotado e confundiam-se com os brados e aplausos de jovens estudantes, professores e trabalhadores de todas as idades, reunidos para “defender e celebrar a universidade pública, gratuita e de qualidade”.

“Com a arte se combate o obscurantismo”, disse o reitor João Carlos Salles para anunciar o papel reservado às várias apresentações artísticas que marcaram o Congresso.  A polissemia cultural reuniu música, teatro, poesia e exposição de arte e as integrou no de abertura. De acordo com o reitor, “as atividades programadas para acontecer durante os três dias do congresso têm a responsabilidade de chamar atenção para a importância da universidade como agente de transformação com impacto em toda a sociedade, e por isso, a importância de todos lutarem por ela”.

As batidas do grupo de percussão Rum Alabê, regido pelo professor Iuri Passos, foram os primeiros sons da abertura oficial do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão da UFBA, às 15 horas da quarta-feira, 16 de outubro, no hall de entrada da Reitoria. O grupo musical seguiu depois até o salão nobre, onde foi recepcionado por uma multidão. “A Universidade é lugar de poder, por isso deve ser ocupada pelo povo do candomblé, pelo negro, índio, homossexual, por todos”, disse Iuri, enfatizando a importância da valorização dos ritmos sagrados do candomblé pela sociedade.

A Orquestra de Frevos e Dobrados, regida pelo maestro Fred Dantas, se deslocou até a frente da reitoria onde tocou clássicos carnavalescos, para depois passar ao salão nobre e executar o hino nacional. “Eu toquei o hino nacional com tamanho ímpeto porque acho que o Brasil é muito maior que esse momento que estamos vivendo”, disse Fred Dantas. Criador da Orquestra de Frevos e Dobrados, o maestro falou do orgulho em participar do ato político de abertura do Congresso, “num momento chave para o país, quando a democracia, a liberdade e as artes estão sob ataque”.

O jingle em defesa da universidade pública no Brasil foi cantado pelo Canto-Coral da Escola de Música da UFBA, sob a regência do maestro José Maurício. Composta pelo premiado professor, compositor e assessor especial da reitoria Paulo Costa Lima, a música convoca todos à defesa da universidade: “vamos defender. Vamos juntos te defender”.

Falas de autoridades foram intercaladas por poemas declamados pela professora, atriz e diretora teatral Meran Vargens. Completando a programação artística, o violonista costa-riquenho e professor da Escola de Música da UFBA, Mário Ulloa, fez uma interpretação impactante da canção “El Condor Pasa”.

O grupo de teatro “Comitê político contra o golpe” apresentou-se no salão nobre e continuou seu percurso em volta do palácio da Reitoria. O coletivo carregava um caixão simbolizando o velório da justiça no país, sem, contudo, enterrar a esperança. “Eu luto por justiça e igualdade social, contra o golpe e o sistema neoliberal”, cantava.

O reitor deu destaque à moção de solidariedade ao Instituto Goethe – que foi aprovada pelo Conselho Universitário – em relação às críticas pelo local ter sediado a performance do artista de dança Wagner Miranda Schwartz, intitulada La Bête. A professora Lenira Rangel leu o manifesto para um corpo em estado de nudez da Escola de Dança. “A arte não está desvinculada da sociedade da qual faz parte e tem o livre direito de expressão como toda e qualquer manifestação”.

A 3ª mostra gráfica, com parte dos acervos da Escola de Belas Artes e dos artistas plásticos Goya Lopes e Juarez Paraíso, e a maquete da UFBA também fizeram parte do ato de abertura e continuam em exposição durante os dias do Congresso, no foyer lateral da reitoria.

Em silêncio e com palavras

Logo após o lançamento oficial do Fórum Social Mundial na cerimônia de abertura do Congresso (que será realizado na UFBA de 13 a 17 de março de 2018), fez-se um minuto de silêncio em homenagem ao reitor da Universidade Federal de Santa Cantarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier de Olivo.

Parabenizando a realização do evento, o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso das Ciências (SBPC), Ildeu de Castro Moreira, classificou-o como “uma ação atividade de resistência que todos nós precisamos exercer frente ao processo de retrocesso em que estamos vivendo nas ciências, na educação, nos direitos sociais e nos serviços públicos”.

A deputada federal Alice Portugal, que é servidora técnica do Hospital Universitário Professor Edgard Santos, propôs uma homenagem ao professor João Carlos, como “reitor-companheiro”, devido à “coragem de encampar a luta em defesa da universidade”, lembrando que a UFBA também “foi a primeira a se levantar para reagir desde os tempos da ditadura militar”.

O também integrante do quadro da Universidade e parlamentar da Câmara Federal, Jorge Solla, alertou a comunidade universitária para “o retrocesso que representam os cortes das verbas de financiamento de projetos de pesquisas e outras atividades acadêmicas”. A ex-vereadora Aladilce Souza conclamou toda a sociedade para “defender o restabelecimento do funcionamento pleno das universidades”.

Os vereadores Hilton Coelho e Sílvio Humberto, também apresentaram suas manifestações de apoio em prol da UFBA.  Coelho reconheceu como o ato realizado é “muito corajoso nesse momento político” e Humberto reafirmou que somente “todos juntos podemos mudar alguma coisa”.  A secretária-geral da União Nacional dos Estudantes (UNE), Mariana Jorge, entende que mais do que coragem, “o ato em defesa da universidade é um ato de resistência”.

Considerando o Congresso como um espaço de troca e mudança, o coordenador do Sindicato dos trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Universidades Federais do Estado da Bahia (ASSUFBA), Renato Jorge, afirmou que “a transformação da sociedade se dá pelo diálogo e isso é o que se fará aqui.

Tesourômetro

Já no começo da noite, coroando as atividades de abertura do Congresso UFBA 2017, aconteceu a ativação do Tesourômetro da Ciência, que é um painel eletrônico disponibilizando dados numéricos sobre a redução de investimentos em ciências e tecnologia, realizados pelo Governo desde 2015, nos recursos destinados ao orçamento das universidades públicas e desenvolvimento das ciências.  O equipamento que está na frente da Reitoria da UFBA, no Canela, tem o objetivo de “denunciar os cortes, desmonte e retrocesso impostos à educação superior, à pesquisa científica e ao serviço público”, disse Ildeu de Castro Moreira da SBPC.

O tesourômetro integra a campanha “Conhecimento sem Cortes” e já foi instalado em outras universidades públicas do país.  A presidente do Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia (APUB), Luciene da Cruz Fernandes, acredita que “é uma oportunidade de dialogar com a sociedade”, pois conforme salientou Moreira, “a redução dos recursos que atualmente é equivalente a 1/3 do que tínhamos em 2010 ou 25% do montante que foi destinado 8 anos atrás, não afeta só a universidade ou os cientistas, mas também a economia e a vida do povo brasileiro”.

O painel permanecerá mostrando as atualizações dos cortes do orçamento que “já é o mais baixo dos últimos 12 anos para pesquisa e educação”, destacou o professor da Universidade Federal do Ceará, Ênio Monte de Deus.  A colocação do tesourômetro é fruto de uma parceria entre a UFBA, o Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia (APUB), o Diretório Central dos Estudantes (DCE-UFBA) e o Sindicato dos trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Universidades Federais do Estado da Bahia (ASSUFBA).