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Espetáculo "Pele Negra, Máscaras Brancas” estreia segunda, 18/03, e abre o 3° Fórum Negro de Artes e Cultura

(Foto: Adeloyá Magnoni/Divulgação)

O espetáculo "Pele Negra, Máscaras Brancas", baseada na obra homônima de Frantz Fanon, leitura que aborda os impactos do racismo pessoal, interpessoal e institucional nas vidas e mentes de pessoas negras, estreia nessa segunda-feira, 18 de março, às 19h, no teatro Martim Gonçalves. A peça segue em cartaz de 23 de março a 14 de abril, de sexta a domingo, às 19h. A entrada é gratuita.

A montagem da Companhia de Teatro da UFBA abre a programação do 3° Fórum Negro de Artes e Cultura (FNAC), que ocorre de 18 a 22 de março em vários pontos da UFBA, com o tema Xirê dos saberes: (Re) Conhecer, Existir, uma relação à festa pública do candomblé, no qual todos os orixás são homenageados ao mesmo tempo.

A peça busca denunciar o processo de colonização na construção de sofrimentos psicológicos em corpos negros, ao retratar três períodos históricos (1950, 2019 e 2888) e trazer o próprio Fanon como personagem, que, após ter sua tese reprovada em 1950, é colocado no ano de 2019 para, mais uma vez, defender o resultado de seu doutorado.

OnisajéComposta por um elenco majoritariamente negro, um dramaturgo negro, "Pele Negra, Máscaras Brancas" tem a primeira mulher negra como diretora de um espetáculo pela companhia de Teatro da UFBA, fundada em 1981. Natural de Alagoinhas, Onisajé (Fernanda Júlia), de modo semelhante a outras obras, traz o aprendizado dos mitos e deuses africanos.  

A diretora explica o título da peça, fundamentado em quanto mais pele negra, menos máscaras brancas. “Quanto mais fortalecermos e conhecermos nossa origem de negritude, sabermos de onde viemos, quem somos, quais são nossos referenciais históricos, nossos antepassados, nossa história referencial negra, menos seremos vítimas das máscaras brancas, da necessidade de se mascarar dentro da cultura do colonizador, para poder se aceito ou inserido em determinado espaço”, observa.

Sobre o título, ela explica que pele negra é uma grande metáfora para falar de cultura negra, da identidade negra, do que foi socialmente e culturalmente herdado dos antepassados africanos, trazidos ao Brasil de forma violenta.

Graduada pela Escola de Teatro, onde ingressou em 2006, Onisajé enxerga seu pioneirismo frente a Cia de Teatro da UFBA em razão do reflexo das reinvindicações de um alunado negro da Escola de Teatro, que, diz ela, “necessita e merece se ver representado dentro dos espaços, de poder, de construção simbólica da Escola e da universidade como um todo”.

Em sua opinião, é importante disputar não só espaços, como narrativas. Ela, que pesquisa no doutorado a criação de uma metodologia que coloca o candomblé como epistemologia, demarca seu lugar de fala enquanto sacerdotisa, mãe pequena do Ilê Axé Oyá L´adê Inan, mulher negra e lésbica.

“É muito importante demarcar esses espaços, assumir esse lugar de fala e disputar as narrativas. A narrativa cênica da Escola de Teatro, nesses 60 anos, nos mais de 30 anos de Cia de Teatro, é uma narrativa eurocêntrica, parte dos princípios filosóficos, culturais da Europa e dos EUA”, reflete.

Mais do que uma honra, Onisajé enxerga a responsabilidade de ser a primeira mulher negra a dirigir uma peça da Cia também como uma denúncia. “É inadmissível que em pleno em 2019, eu seja a primeira mulher negra a dirigir a Cia. Me sinto lisonjeada, porém é uma denúncia política real de que precisamos mudar esse quadro”, afirma.

Mestra e doutoranda em artes cênicas, ela foi professora substituta da Escola de Teatro da UFBA, e assina a direção e encenação do trabalho.

Ela conta que foi o abismo entre o pensamento colonizador e branco frente aos conhecimentos indígenas e africano que a faz se lançar no espaço acadêmico. Em seu currículo também, a fundação do Núcleo Afro brasileiro de Teatro de Alagoinhas – NATA e a indicação ao prêmio Braskem pelos espetáculos “ Siré Obá “A festa do Rei” e Erê.

“Se ver e ser visto é fundamental, representatividade importa e a disputa de narrativa é importante para tentar equilibrar as relações raciais no Brasil”, diz Onisajé.

Ficha técnica:

Direção: Onisajé (Fernanda Júlia)
Texto: Aldri Anunciação

Elenco: Iago Gonçalves, Igor Nascimento, Juliette Nascimento, Manu Moraes, Matheus Cardoso, Matheuzza, Rafaella Tuxá, Thallia Figueiredo, Victor Edvani, Wellington Lima

Co-direção: Licko Turle
Assistência de direção: Fabíola Nansurê
Orientação de pesquisa: Alexandra Dumas e Licko Turle
Colaboração em Pesquisa: Cássia Maciel, Edson César e Lucas Silva
Estudantes-pesquisadores: Camila Loyasican, Juliana Bispo, Juliana Luz, Juliana Roriz
Trilha sonora: Luciano Salvador Bahia
Preparação Vocal: Joana Boccanera
Coreografia e Preparação Corporal: Edileusa Santos
Cenografia, Figurino e Maquiagem: Thiago Romero e Tina Melo
Desenho de luz: Nando Zâmbia
Produção: DA GENTE Produções
Direção de produção: Luiz Antônio Sena Jr
Produção executiva: Anderson Danttas e Bergson Nunes
Assistência de produção: Eric Lopes
Assessoria de Imprensa: Theatre Comunicação
Design Gráfico: Diego Moreno
Registro Fotográfico: Andréa Magnoni
Realização: Escola de Teatro - PROEXT – UFBA