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Mais negra e inclusiva, UFBA precisa de mais verba para assistência estudantil

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Inclusiva, diversa e predominantemente negra, jovem e feminina. É esse o perfil da graduação na UFBA traçado a partir dos dados da V Pesquisa Nacional de Perfil dos Graduandos das IFES 2018, realizada pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).
 
Entretanto, se, por um lado, a UFBA vem colhendo os frutos de uma década e meia de ações afirmativas, por outro, ainda carece de recursos para atender a contento às demandas trazidas por esse novo perfil de comunidade, em que três a cada quatro são negros e de baixa renda, mas somente um tem ou já teve acesso a políticas de assistência estudantil – área do orçamento que, apesar de não ter sido incluída no bloqueio anunciado pelo Ministério da Educação, é severamente impactada na medida em que o funcionamento geral da Universidade fique comprometido.
 
“Nossa Universidade, hoje, se aproxima mais da riqueza cultural de seu povo, conservando indicadores muito positivos de desempenho acadêmico”, afirma o reitor João Carlos Salles. “Os dados justificam o acerto da política de ações afirmativas”, diz Salles, ponderando que eles também “mostram que aumentou a necessidade de recursos para assistência estudantil, para que o acesso à universidade se torne, verdadeiramente, inclusão”. “Nosso desafio torna-se ainda maior nesse momento de restrições orçamentárias e agressões a uma universidade que está dando certo”, enfatiza.
 
A amostra de 5774 estudantes de graduação da UFBA que responderam à pesquisa, de um total de 38,6 mil (número que faz da Universidade a quarta maior entre as federais nesse quesito, atrás apenas das universidades do Pará, do Rio de Janeiro e Fluminense), revela que, 15 anos após o início da política de acesso por cotas sociais e raciais, 3 a cada 4 graduandos são considerados negros (soma dos que se autodeclaram de cor preta, parda e indígena).
 
Isso significa que, hoje, o perfil racial dos estudantes da Universidade corresponde quase plenamente à composição racial da Bahia: 75,6% dos alunos são negros na UFBA, ante 76,7% de negros no Estado, segundo a PNAD/IBGE de 2018. O percentual de negros na UFBA é bastante superior ao do conjunto das universidades federais (51,2%, o maior da série histórica da pesquisa) e ao da população brasileira (60,6%, também segundo a PNAD). Na comparação com as outras 64 universidades e institutos federais (Ifes) que participaram da pesquisa, a UFBA é, disparada, a que tem maior número de alunos autodeclarados pretos: 32,2%, ante 15,5% no Nordeste, e 12% no país.
 
A pesquisa permite estimar que 62,3% do alunado de graduação seja composto por mulheres, acima do percentual nacional (54,6%). O percentual de ingressantes por cotas também supera o percentual nacional (45,1% x 41,9%), muito embora o total de alunos que vêm de escolas públicas seja um pouco menor na comparação com o conjunto das federais (57,7% x 64,7%).
 
O pró-reitor de Ensino de Graduação, Penildon Silva Filho, observa que a evasão escolar – que tem como uma das principais causas a falta de recursos para continuar os estudos – pode ter influência nesse dado. Outra causa pode ser a relativamente baixa atratividade da Universidade aos alunos de escolas públicas: “É importante que o estudante da escola pública saiba que a universidade pública é acessível a eles”, observa Penildon. Semanalmente, uma equipe da pró-reitoria visita uma ou duas escolas da rede pública para apresentar a UFBA aos alunos do ensino médio, ação que faz parte do programa UFBA Mostra Sua Cara, uma política permanente de aproximação ao público secundarista.
 
Vulnerabilidade socioeconômica
 
Outro dado impressionante indica que raça e renda ainda seguem tragicamente atreladas no Brasil: 69,1% dos estudantes da UFBA têm renda familiar média per capita de até 1 e meio salário mínimo, praticamente o mesmo patamar do conjunto das Ifes, 70,2%. A UFBA de hoje, definitivamente, não é uma universidade voltada primordialmente aos mais ricos: 15,7% dos graduandos têm renda entre 1,5 e 3 salários mínimos, e apenas 12,3% vêm de famílias que têm renda acima disso.
 
Se, por um lado, a maioria dos alunos da UFBA é negra e de baixa renda, por outro, apenas 27% (praticamente 1 em cada 4) é ou já foi beneficiado por alguma ação de assistência estudantil, muito embora, anualmente, a Universidade execute 100% do orçamento destinado a essa área, que no ano passado totalizou R$ 32,4 milhões – auxílios alimentação e moradia, atendimento médico e assistência de transporte são os mais procurados, entre outros. “A UFBA tem trabalhado no sentido de aprofundar e transversalizar as ações afirmativas. Percebemos que a permanência tanto material quanto simbólica dos estudantes é um objetivo a ser alcançado para consolidação da universidade pública, gratuita, inclusiva e de qualidade”, afirma a pró-reitora de Assistência Estudantil e Ações Afirmativas, Cássia Maciel.
 
Nove em cada 10 alunos da UFBA relatam enfrentar alguma dificuldade que interfere diretamente em sua vida ou no contexto acadêmico – dado próximo ao percentual nacional, 86%. Entre as mais frequentes estão a falta de disciplina ou hábito de estudo (32,5%), dificuldades financeiras (29,5), problemas emocionais (28,4%), carga excessiva de trabalhos estudantis (26%), tempo de deslocamento para a universidade (25%) e problemas de relacionamento familiar (18,4%).
 
O pró-reitor de Graduação observa que “provavelmente a maior parte da evasão estudantil é por motivo socio-econômico”. Ele avalia: “Se quisermos ter eficiência no gasto público, temos que investir mais na assistência estudantil, para evitar vagas ociosas. O investimento na assistência estudantil não aumenta o custo da universidade: na verdade, aumenta sua eficiência, porque de nada adianta ter vagas ociosas”, essas, sim, “um investimento que não tem retorno”.