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Mesa composta por mulheres discute sexismo na capoeira

Palestrantes falaram sobre abusos no meio capoeirista

Aconteceu na Faculdade de Filosofia da UFBA, nesta quinta-feira (15/03) a mesa Outra roda é possível: Caladas, nunca mais! A discussão abordou as dificuldades e opressões sofridas pelas mulheres dentro e fora da capoeira, sendo mediada por Lilu Pimenta, contra-mestra do Coletivo Capoeira Mariá. Estiveram presentes na mesa Adriana Albert, Christine Zonzon, Verena Souto, Isabela Silveira e Maria Paula Adinolfi, todas praticantes de capoeira.

As palestrantes relataram diversas práticas abusivas e desrespeitosas contra as mulheres, como gestos de cunho sexual feitos no momento da roda por homens, contra mulheres e questionaram o papel da chamada “tradição” na manutenção dessas práticas sexistas. Para Christine, antropóloga, “O corpo da mulher na capoeira já atinge a tradição”. Em resposta a essa constatação, as debatedoras chamaram atenção para a necessidade de humanizar essa tradição colocando-a em consonância com os direitos humanos e rejeitando valores que ajudam a perpetuar o sexismo.

Elas destacaram que apesar de as mulheres se mostrarem presentes na capoeira desde o início do século 20, as posições de liderança sempre estiveram na mão de homens. Para Maria Paula, funcionária do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), “A importância que a mulher tem ganhado dentro da capoeira é inegável, mas o lugar da autoridade ainda é do homem”. Cristine considerou permissiva a postura dos mestres de capoeira em relação ao assédio e à discriminação contra as mulheres praticantes. Segundo ela: “Quem faz isso (práticas abusivas contra mulheres) é quem tem prestígio na roda. Essas práticas sexistas só podem acontecer com o aval do mestre”.

Adriana, historiadora, se aprofundou sobre o sexismo que marca a capoeira desde seus primórdios. Ela trouxe relatos do início do século passado, de casos de violência praticada por capoeiristas contra mulheres, destacando que a mentalidade machista também é prejudicial para os homens. Como exemplo, utilizou o caso do capoeirista Nejá, morto a facadas após ser desafiado e tentar defender o seu status de “homem valente”.

Para Adriana, a violência contra as mulheres dentro da capoeira deve discutida e combatida ativamente. “Outra roda será possível se deixarmos de ser coniventes com a violência que atinge nossas companheiras. Quando a violência contra a mulher deixar de ser um tabu”, disse. Isabela, fundadora do Coletivo “Eu aceito… Eu ofereço”, afirmou que as mulheres devem reagir de maneira combativa contra qualquer tipo de violência para que não continuem sendo vítimas.

O público, composto em sua maioria por mulheres, também relatou as suas experiências com a violência de gênero dentro e fora da capoeira. A mesa ainda contou com uma performance da capoeirista e arte educadora Nildes Sena em sua abertura. Ela combinou uma encenação e batuques de pandeiro para fazer uma crítica contra a perseguição policial sofrida pelo povo negro desde o tempo da escravidão.