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Primeira expedição de uma equipe do Nordeste à Antártica tem participação de pesquisadores da UFBA

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Dez acadêmicos do time do Proantar Nordeste embarcam rumo à Antártica hoje, 08/10, na 38ª Operação Antártica (Operantar XXXVIII). É a primeira vez que uma equipe do Nordeste é contemplada por um edital do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), com o projeto “Biocomplexidade e Interações Físico-Químico-Biológicas em Múltiplas Escalas no Atlântico Sudoeste”.

O grupo interdisciplinar formado por pesquisadores das universidades federais da Bahia (UFBA) e de Pernambuco (UFPE) irá realizar trabalhos nas áreas de química, física, biologia, oceanografia, comunicação e arte. A expedição sai do Rio de Janeiro (RJ), passa por Rio Grande (RS), depois por Punta Arenas (Chile), e segue para Antártica, onde vai fundear na baía do Almirantado, uma área protegida em frente à Estação Antártica Brasileira. A viagem deve terminar no dia 24 de novembro, dependendo das condições de mar e meteorológicas.

Três pesquisadores da UFBA estão no grupo: José Garcia, do Departamento de Física; Tatiane Combi, do Instituto de Geociências; e Karla Brunet, do IHAC, coordenadora do grupo de pesquisa Ecoarte (leia mais abaixo).

Selecionado pelo edital 21/2018 CNPq/MCTIC/CAPES/FNDCT, o Proantar Nordeste é coordenado pelo professor Moacyr Cunha de Araújo Filho (Docean/UFPE) e vice-coordenado pelo professor Jailson Bittencourt de Andrade (Instituto de Química da UFBA/Senai Cimatec).

A iniciativa envolve um esforço conjunto de 12 instituições, sendo 7 nacionais - 4 do Nordeste (UFRN, além de UFPE, UFBA e Senai Cimatec); 1 do Sul (FURG); e 2 do Sudeste (UFRJ e Puc-Rio) - e ainda 5 instituições internacionais - 1 alemã (HZG); 2 norte-americanas (ODU e NCSU); 1 italiana (SZN); e 1 japonesa (UT). Seu principal propósito é investigar o papel dos processos físico-químicos e biológicos na estruturação do ecossistema planctônico e nos ciclos biogeoquímicos na região da Confluência Brasil-Malvinas (CBM), de modo a testar a hipótese da existência de uma maior diversidade em regiões de encontro de correntes de contorno.

Atividades a bordo

O trabalho envolve a instalação de um uCTD (underway Conductivity Temperature Depth) no navio, para obter informações sobre a temperatura e a salinidade em profundidade ao longo da viagem. Os dados coletados pelo uCTD permitem construir a estrutura tridimensional do oceano superior e, assim, acompanhar o movimento das correntes oceânicas. Com isso, é possível identificar estruturas, como exemplo os vórtices oceânicos. “A equipe da oceanografia física irá observar as estruturas de mesoescala (vórtices) e sua resposta na parte biogeoquímica”, explica Fabrício Oliveira, do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (IO-FURG), que irá embarcar com o uCTD em Rio Grande.

Os dados reunidos durante a viagem serão analisados, entre outros acadêmicos, pelo físico José Garcia, do Departamento de Física da UFBA, que estará a bordo do navio. Especialista em análise de fenômenos naturais e sistemas complexos – como estudo de clima, de populações e de microorganismos –, ele irá trabalhar para compreender os padrões complexos e não-lineares da natureza. “Serão analisados os dados das propriedades físico-químicas tanto da água do mar quanto das propriedades dos microorganismos. Uma das propostas, por exemplo, estuda a rede de interação dos microorganismos dessas regiões e o quanto elas podem estar sensíveis a mudanças climáticas”, conta Garcia.

Já a pesquisadora oceanógrafa Tatiane Combi, do Instituto de Geociências da UFBA, integra o time que irá estudar aspectos da oceanografia química e poluição marinha na região. “Vamos tentar encontram fluxos de alguns contaminantes, conhecidos como Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), pesticidas e compostos de uso industrial, para ver o que acontece com eles na Antártica e na CBM”, explica Combi.

Além disso, os pesquisadores irão fazer análises atmosféricas (da qualidade do ar) e da concentração de microplásticos. As interações entre esses todos esses processos também serão observadas, assim como os impactos que eles podem ter em nível regional e global.

Paralelamente, uma equipe de comunicação e arte, liderada pela coordenadora do grupo de pesquisa Ecoarte Karla Brunet, do IHAC, que estará a bordo, irá realizar a comunicação do Proantar Nordeste na mídia, nas redes sociais e no site do projeto, além de trabalhar em uma produção artística a partir do aprendizado científico a bordo.

Treinamento Pré-Antártico

A realização de uma expedição científica para o polo sul exige uma preparação técnica que envolve apresentação de conhecimentos teóricos e avaliações de adaptabilidade e capacidade física, a fim de qualificar os participantes para serviço na Antártida. 

O treinamento pré-antártico é feito por meio de palestras, filmes, discussões e práticas físicas, como natação, caminhada, exercício em barra fixa, manobra com bote, escada vertical flexível, que são avaliadas por militares. É indispensável, para a habilitação nas Operações Antárticas, a conclusão com aproveitamento em todas as etapas. 

A equipe do Proantar Nordeste passou por esse treinamento entre os dias 4 e 11 de agosto de 2019, no Centro de Avaliação da Ilha da Marambaia (Cadim), no Rio de Janeiro.

Programa Antártico Brasileiro

A pesquisa científica da região austral, na qual o Brasil se engajou desde o final do século XIX, é de importante para o entendimento do funcionamento do sistema Terra e essencial para a preservação da vida.

A condição do Brasil de país atlântico, situado a uma relativa proximidade da região antártica (é o sétimo país mais próximo), e as óbvias ou prováveis influências dos fenômenos naturais que lá ocorrem sobre o território nacional, já de início, justificam plenamente o histórico interesse brasileiro sobre o continente austral.

Essas circunstâncias, além de motivações estratégicas, de ordem geopolítica e econômica, foram fatores determinantes para que o País aderisse ao Tratado da Antártica, em 1975, e desse início ao Programa Antártico Brasileiro (Proantar), em 1982.

A entrada do País no Sistema do Tratado da Antártica abriu à comunidade científica nacional a oportunidade de participar em atividades que, juntamente com a pesquisa do espaço e do fundo oceânico, constituem as últimas grandes fronteiras da ciência internacional.

O Programa Antártico Brasileiro estabelece como o Brasil participará das explorações científicas deste continente, em vista à sua importância para a humanidade e especialmente para o País. Tem como propósito a realização de substancial pesquisa científica na região antártica, com a finalidade de compreender os fenômenos que ali ocorrem e sua influência sobre o território nacional, contribuindo, assim, para a efetivação da presença brasileira na região.

Foto: Carlos Lentini (Professor Associado do Instituto de Física – Departamento de Física da Terra e do Meio Ambiente - Grupo de Oceanografia Tropical -  UFBA)

Com informações do Proantar Nordeste