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Startup de alunos da UFBA atrai investimento para desenvolver “teste de gravidez” para vacas

Grupo faz parte da incubadora Inovapoli, da Politécnica

Há pouco mais de um ano, eles eram apenas quatro universitários sonhadores, dos cursos de veterinária, biotecnologia e engenharia química, que se reuniam semanalmente na cantina da faculdade para tentar chegar a alguma ideia com potencial de "mudar um pedacinho do mundo". De lá para cá, eles não só encontraram a tal ideia, como conseguiram fechar, com uma patrocinadora, um contrato de investimento (cujo valor preferem não revelar) que vai permitir desenvolvê-la - e, se tudo der certo, colocá-la no mercado daqui a cerca de um ano.

A ideia é original: fabricar um "teste de gravidez" para vacas, produto que ainda não existe no mercado. Original e eficaz: utilizando apenas uma gota de sangue do animal, a expectativa é reduzir pela metade o tempo de espera para saber se uma vaca inseminada está ou não esperando um bezerrinho. Atualmente, esse tempo varia entre 30 e 45 dias, e depende de um exame ultrassom ou de toque feito por veterinários - processos que, além de caros, são invasivos para o animal. O teste ajudará a aumentar a produtividade dos rebanhos, pois possibilitará aos criadores reinseminar mais rapidamente as vacas que não estiverem prenhas.

Os autores da empreitada são Emily Nunes, 20, aluna do 5º semestre de medicina veterinária; Carla Pereira, 23, do 9º semestre de engenharia química; Tatiana Damasceno, 23, e Alexandre Galvão, 21, ambos do 7º semestre de biotecnologia. Juntos, eles fundaram a NBioTecnologia, uma startup incubada pela Inovapoli, núcleo da Escola Politécnica da UFBA que presta assessoria e apoio a projetos de estudantes empreendedores. Startups são grupos, geralmente de jovens, à procura de novas e originais possibilidades de produtos ou serviços. Grande incentivadora do grupo, a diretora da Politécnica, Tatiana Dumêt, destaca o interesse “praticamente inédito” de uma investidora em uma empresa da área de biotecnologia, ainda na fase de desenvolvimento do produto. “Isso demonstra a dedicação e competência dos alunos, e a importância do apoio da UFBA a essas ações.”

Atitude empreendedora

Para chegar à ideia aparentemente simples do teste de prenhez para vacas, eles percorreram um longo caminho. Originalmente, a intenção era produzir um teste para detectar uma bactéria imperceptível que parasita o gado e pode causar doenças. Mas, após participarem do curso de capacitação “Como Montar uma Startup”, do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas, instituição parceira da Inovapoli), eles fizeram um estudo de mercado e viram que aquele projeto, apesar de cientificamente interessante, era economicamente inviável: a tal bactéria só provoca sintomas quando as doenças estão em fase avançada, o que obrigaria os criadores a testar todo o rebanho para identificar animais infectados - e isso sairia caro demais, mesmo para grandes pecuaristas.

Eles resolveram então partir para outra. "Foi aí que descobrimos que nem sempre as boas ideias surgem no laboratório. Foi preciso estudar o mercado agropecuário, conversar com os criadores, para entender as necessidades deles e, a partir daí, procurar soluções viáveis", explica Alexandre. Com o apoio da Inovapoli, os quatro peregrinaram por hospitais veterinários e participaram de feiras agropecuárias em Salvador e Vitória da Conquista, onde, além de aferir a aceitação da ideia entre veterinários e criadores, procuraram entender todos os detalhes da cadeia de produção e distribuição de insumos do setor.

O "insight" do teste de prenhez só foi possível porque eles aprenderam – graças aos conselhos de Camilo Teles, tutor do SEBRAE, dos professores Paulo Gomes, do Núcleo de Inovação Tecnológica da UFBA e Ricardo Portela, coordenador do curso de biotecnologia, e dos tutores da Inovapoli – que era preciso deixar de pensar como estudantes e assumir a atitude de empresários.

O primeiro passo foi profissionalizar a estrutura do grupo: Alexandre virou "Diretor de Produto"; Tatiana, "Diretora Operacional"; Carla, "Diretora Financeira"; e Emily, a mais jovem do time, virou a CEO (Chief Executive Officer), a "executiva-chefe" da empresa. Por fim, rebatizaram de Nbio (abreviação de nanobiotecnologia) o antigo grupo "Vamos enriquecer!" que haviam criado no Whatsapp - e pronto, a empresa estava criada. "Ainda estamos aprendendo como funciona o mundo empresarial, mas já pensamos de uma forma mais madura. É lindo olhar para trás e ver o quanto a gente mudou", resume Emily.

Prospecção

Além de conceber produto em si, a Nbio prospectou mais de 150 clientes potenciais, nomes e contatos dos principais veterinários no mercado, associações de criadores e até mesmo empresas de manipulação potencialmente interessadas em comercializar o teste, quando estiver pronto. "Pesquisamos como funciona a distribuição e o frete, fizemos orçamento de escritório, levantamento de impostos... tudo, tudo!", detalha Tatiana, entusiasmada.

O pacote pareceu tão promissor aos investidores do grupo Lighthouse (que atua na prospecção e “investimento-anjo” em ideias inovadoras), que eles se interessaram em investir no negócio sem nem ver o protótipo. Há pouco mais de duas semanas, o acordo com a Nbio foi fechado, em troca de uma opção de aquisição de cotas  da empresa no futuro.

Agora, o próximo passo é entrar no Laboratório de Imunologia do Instituto de Ciências da Saúde da UFBA (outro parceiro da empresa), e começar a produção. Se tudo der certo, a previsão é de que em um ano o produto esteja pronto para entrar no mercado. E eles prometem: será apenas o primeiro de vários. "Não somos mais só um grupo de amigos. Agora, somos a NBioTecnologia", conclui Carla.