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UFBA lamenta o falecimento de Iracy Picanço, professora emérita

Iracy Picanço durante Comissão da Verdade da UFBA

 

A UFBA lamenta o falecimento da professora Iracy Picanço, aos 80 anos, na manhã deste sábado, 30 de março e informa que seu sepultamento ocorrerá amanhã, domingo, 31, às 11 horas, no cemitério Jardim da Saudade, no bairro de Brotas.

Professora titular aposentada da Faculdade de Educação (Faced), professora emérita da UFBA desde 2011, Iracy Picanço nasceu em 17 de fevereiro de 1939 em Salvador. Era ainda uma adolescente, com 12 anos, quando alfabetizou seus primeiros alunos numa escola no bairro da Liberdade. Entre 1958 e 1964, dedicou-se ao ensino primário nas escolas Abrigo dos Filhos do Povo, filantrópica, também na Liberdade, e Antônio Bahia, da rede pública estadual, na cidade baixa. Paralelamente, ativa militante do movimento estudantil de 1959 a 1962, com participação no diretório estudantil da Faculdade de Filosofia, em 1962 já atuava como pedagoga no Serviço de Orientação Educacional do Colégio de Aplicação da UFBA.

Foi nessa época também que, num curso de 1962 da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), foi aluna de Paulo Freire, então professor na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Logo na sequência, em 1963, integrou uma delegação de 40 brasileiras que participaram  do Primeiro Congresso Mundial em Mulheres, em Moscou.

Isso certamente influiu em sua não contratação pela UFBA, em 1964, quando, com o contrato em cima de sua mesa, o reitor Albérico Fraga resolveu adiar a assinatura para quando “o período autoritário” passasse. Com certeza não imaginava que duraria longos 21 anos. Iracy Picanço, atingida pelo Ato Institucional número 2, que impôs sua demissão do serviço público estadual, e perseguida pela ditadura, por um tempo se refugiou em casa de amigos e viajou depois para São Paulo. Voltou em 1965.

 Entre os anos de 1965 e 1989, Iracy foi servidora técnico-administrativa da UFBA em assuntos educacionais e, já em 1985, superpôs a essa função a de professora, a qual se dedicou integralmente desde 1989 até se aposentar em 2009. Ela foi diretora da Faculdade de Educação de janeiro de 1996 a janeiro de 2000, e voltou ã administração, como vice-diretora, de 2008 a 2009

Afastada de parte do serviço público em um período da ditadura militar, Iracy Picanço falou sobre essa experiência em depoimento, em 2014, à Comissão Milton Santos de Memória e Verdade da UFBA (disponível em: https://youtu.be/-vWs7o-XGyM), da qual, aliás, era membro. “Minha origem era das camadas proletárias urbanas desse país e dessa cidade”, disse. Ao falar do pai, cobrador de bonde, getulista e sindicalista, lembrou o orgulho que sentia por ter transferido aos filhos “um entendimento com visão social, um nexo com a vida da sociedade”. Em sua casa, Iracy lembrou, “até para cortar cabelo era no sindicato”.

Nesse mesmo depoimento, após reconhecer a violência sofrida por ela e a família durante a ditadura, observou que, a despeito disso, “do ponto de vista coletivo, não somos vítimas, somos vitoriosos”.  Numa sociedade como a nossa “não poderia dizer que perdi, quando saio de professora leiga, do ponto de vista profissional, e chego a professora emérita desta universidade”. Esse legado da educadora a orgulhava e era o que, disse ali, deixava para os filhos, os netos, e as crianças e jovens do Brasil, aos quais, marcou, “dediquei minha vida”.

Iracy Picanço deixa os filhos engenheiros João Roberto e Marco Antônio, a filha socióloga Felícia Picanço e netos. Deixa também o exemplo de um forte compromisso e luta pelas causas democráticas e pela construção de uma sociedade mais justa e igualitária.